Tuesday, December 28, 2010

Carregar Baterias

O maior problema do amor é que nunca aprendemos nada com ele. Nem sequer aprendemos a esquecer quando a vida não nos aponta mais nenhum caminho. Amei-te durante mais tempo do que devia, não só por teimosia, mas para não ficar com o coração vazio. Pensava eu que se deixasse de te amar, murcharia como uma flor sem água, exposta a um sol impiedoso que é a vida de todos os dias.
Estava errada. A secura, afinal, era tua e nunca sequei por não me amares, ou pelo menos, não me amares da mesma maneira, Descobri isso quando deixei de ter saudades do teu corpo na minha cama e das tuas mensagens tardias no telemóvel que me alimentavam nas manhãs solitárias. Às noites de sono fugidio e sobressaltado seguiram-se as de descanso profundo, com a certeza de que o dia seguinte seria sempre mais fácil. E sei que não é isto o esquecimento, porque esquecer alguém é como enterrar um parente e eu nunca te enterrei no meu coração, apenas te empurrei para um canto pequeno que já não pesa nem dói, uma espécie de pequena cicatriz que, agora sei, não mais voltará a abrir.
Talvez ainda te ame, de uma forma discreta e sábia, como se o que sinto por ti não fosse afinal assim tão decisivo. Quem disse que devemos acabar com as coisas antes que as coisas acabem connosco? Nunca quis acabar nada, acabar e desistir são verbos que nem sequer fazem parte do meu dicionário, mas agora que já durmo em paz e gozo a vida, deitada ao sol a carregar baterias, porque sei que a água nunca me há-de faltar, sinto-me muito mais feliz do que quando ainda sonhava com um futuro possível contigo. A ansiedade desapareceu com o Inverno, e no lugar dela chegou uma paz nova e regeneradora, uma vontade enorme de avançar sem acertar o passo com mais ninguém, talvez viver numa outra cidade, mudar de casa, de rua, de língua, de sonhos e carregar bateras de mil e uma nova formas.
Quanto ao amor, é afinal mais presente na minha vida do que eu pensava. Está no tempo dos meus amigos e nas provas de dedicação que todos os dias me dão, na vigília distante mas atenta que os meus irmãos me vão fazendo, no sorriso apaixonado do meu pai cada vez que nos vemos, no olhar seguro e orgulhoso da minha mãe,(...), no coração cheio das minhas amigas de sempre.O amor é muito mais do que o amor que nos ensinaram nos livros. o amor está em cada gesto que fazemos, tem as cores da amizade, da devoção, da maternidade, da família, do trabalho, da casa, da vida de todos os dias. é para dar e receber, é para usufruir sem pensar, é para apreciar sem agradecer. o amor está antes e depois de tudo, nunca se esquece nem se apaga, porque há sempre uma nova forma de o viver.
É claro que tu já sabes tudo o que te digo.Por isso, as minhas palavras ficam espalhadas no ar e serão, como sempre, apanhadas por quem quiser ficar com elas, como quem atira setas de pontas de borracha sem alvo determinado, esperando que elas cheguem a um lado qualquer ;). Todos temos setas para enviar, mensagens perdidas como garrafas no oceano, cartas nunca terminadas, sonhos que morreram antes de serem partilhados.


A minha casa é o teu coração
Margarida Rebelo Pinto

8 comments:

Anonymous said...

Não poderia deixar de comentar... Adoro cada palavra! Lindoooo :D

Beijinho Paula :)

Andreia Gonçalves

Mary said...

Muito bom mesmo!

εїз Caroles εїз said...

muito inspirador!!!

Priscila said...

Lindo o texto!
Você tem muito bom gosto!
Parabéns pelo blg!

http://priscilameloc.blogspot.com

Aline Queiroz hosty said...

lindo gostei

MilaMarx said...

romantico hein, lindo!

faizy said...

great i like it

Unknown said...

Nú , to sem palavras pra descrever o tanto que é perfeito isso. Ameeei!!!